Cerca de 500 moléculas desenvolvidas no
Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP serão testadas contra o novo
coronavírus a partir deste mês, em São Paulo, no Instituto de Ciências
Biomédicas (ICB) da Universidade, onde o SARS-CoV-2 está cultivado em laboratório. A hipótese que
será colocada à prova pelos cientistas do IQSC é a de que essas moléculas são
capazes de interromper o ciclo biológico do novo coronavírus inibindo uma de
suas enzimas: a Mpro. Se isso ocorrer, será possível evitar que o vírus
complete a formação de RNA, processo fundamental para sua multiplicação pelo
organismo.
As moléculas enviadas à capital paulista são estudadas há anos pelo Grupo de
Química Medicinal e Biológica (NEQUIMED) do Instituto, mas para o combate de
outra enfermidade, a Doença de Chagas. Neste caso, as substâncias utilizadas
pelos pesquisadores têm apresentado resultados promissores para inibir a
bioatividade da cruzaína, enzima responsável por manter ativo no corpo humano o
Trypanosoma cruzi, parasito causador da doença. A cruzaína, segundo os
cientistas, possui semelhanças estruturais com a Mpro.
A proposta de testar moléculas criadas no
IQSC contra o novo coronavírus gerou um projeto de pesquisa que acaba de
ser contemplado com financiamento da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio do
edital “Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19”. No
trabalho, os cientistas também vão se dedicar ao aprimoramento e síntese de
moléculas com potencial para anular a ação de enzimas essenciais para o ciclo
biológico do novo coronavírus. Utilizando técnicas de inteligência artificial e
aprendizado de máquinas, os pesquisadores pretendem ainda estudar medicamentos
já conhecidos ou que estejam em fase experimental a fim de identificar os mais
interessantes de serem testados contra o SARS-CoV-2.
Testagem em massa – No último dia 30 de março, uma força-tarefa
coordenada pelo ICB começou a realizar testes in vitro com
milhares de fármacos e substâncias contra o novo coronavírus que
está cultivado em laboratório. Nesse tipo de teste, células infectadas pelo
SARS-CoV-2 são colocadas em placas de ensaio e cada uma delas recebe a ação de
diferentes compostos.
As análises são feitas de modo automatizado com o uso da tecnologia de triagem
de alto conteúdo, que permite analisar, simultaneamente, dezenas de milhares de
fármacos todas as semanas. Estima-se que em cinco semanas os cientistas já
terão os resultados dos testes realizados com 2.500 compostos, e a partir desse
momento será possível testar até 4 mil substâncias semanalmente.
A iniciativa se destaca pela participação de diversos especialistas em
diferentes áreas de conhecimento que estão trabalhando juntos para a descoberta
de antivirais para COVID-19. Além de cientistas do IQSC e do ICB, o trabalho
conta com a atuação de pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos
(IFSC) da USP, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Pela iniciativa privada, a Eurofarma também
colabora com os estudos e cedeu ao ICB sua biblioteca com cerca de 1.500
fármacos.
Texto: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do IQSC/USP, com informações de Jornal da USP e da Agência FAPESP