Estudo recém-publicado na revista inglesa Historical Biology traz a revisão taxonômica de um gigante do período cretáceo, e a proposição de um gênero de dinossauro inédito para a paleontologia brasileira.
O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores Julian C. G. Silva Júnior e Max C. Langer da USP (Ribeirão Preto), Fabiano Vidoi Iori, colaborador do Museu de Paleontologia de Monte Alto, Thiago S. Marinho da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e pelos pesquisadores argentinos Agustín G. Martinelli e Martín Hechenleitner.
A descoberta de um dos maiores e mais completos dinossauros brasileiros ocorreu em 1997 por uma dupla de inusitados caçadores de fósseis: Ademir Frare, um comerciante de frutas e conhecedor dos sítios da região de Cândido Rodrigues, e seu sobrinho Luiz Augusto do Santos Frare, um garoto de 12 anos apaixonado por dinossauros.
A dupla resolveu sair pela região em busca de fósseis e, em uma dessas caçadas, acharam ossos grandes e entraram em contato com a equipe do Museu de Paleontologia de Monte Alto.
O paleontólogo Fabiano Iori relata que as escavações revelaram uma raridade paleontológica. “Quando começamos a escavar, não parava de aparecer fósseis. Encontramos vértebras, costelas, partes da bacia e ossos de membros, muitos deles ainda estavam articulados, principalmente os ossos da região dos fêmures e início da cauda”.
As escavações ocorreram em 1997 e 1998 e foram coordenadas pelo professor Antônio Celso de Arruda Campos (1934-2015), então diretor do museu. Professor “Toninho”, como era conhecido, também foi coautor na descrição original do espécime, publicada no ano de 2011, onde o animal foi reconhecido como uma espécie nova dentre os Aeolosaurus, um gênero já conhecido na Argentina.
Novos Dados
Julian Silva Júnior, autor principal do estudo de 2021, explica que novos dados e técnicas surgiram recentemente, e que as análises atuais de parentesco entre a espécie brasileira e as argentinas se mostravam inconclusivas.
“Analisando as estruturas das vértebras caudais do dinossauro de Cândido Rodrigues, observamos que são distintas dos demais dinossauros de seu grupo e tais feições serviram para estabelecer um diagnóstico para propor um novo gênero”, comenta.
O animal foi rebatizado como Arrudatitan maximus, onde a designação Arrudatitan é uma homenagem ao professor “Toninho”, responsável pela criação do Museu de Paleontologia de Monte Alto, por dedicar décadas às pesquisas paleontológicas e também por ter coordenado os trabalhos de escavação e preparação dos fósseis do dinossauro de Cândido Rodrigues, que viria a receber o seu nome. O epíteto maximus, se refere ao grande porte do animal.
Segundo Julian Júnior, o Arrudatitan tinha entre 19 e 22 metros de comprimento, sendo considerado o terceiro maior dinossauro do país. Pertencia ao grupo dos Saurópodes, dinossauros herbívoros caracterizados por seus longos pescoços e caudas.
Assim como os demais titanossauros, se destaca por seu grande tamanho e por ter um esqueleto leve, porém resistente o suficiente para suportar o peso do animal.
Iori explica que Arrudatitan viveu há cerca de 85 milhões de anos, no período cretáceo, e que esse gigante conviveu com dinossauros predadores (abelissaurídeos e dromeossaurídeos), crocodiliformes (itassuquídeos, peirossaurídeos, esfagessaurídeos e outros notossúquios), quelônios, moluscos, entre outras formas.
Segundo Sandra Tavares, paleontóloga e diretora do Museu de Paleontologia de Monte Alto, este estudo amplia ainda mais o conhecimento sobre os fósseis dos titanossauros que viveram na região de Monte Alto.
Sandra ressalta que os fósseis do Arrudatitan maximus, além de sua importância científica, estão entre as peças mais apreciadas da coleção pela dimensão dos ossos. “Em breve, os fósseis poderão ser vistos pelo público em geral na reabertura do museu, logo após a estabilidade da pandemia de coronavírus”.